por Breno Lucano
Grande parte dos teóricos da ética tentam atribuir ao bom um sentido absoluto, geral, incondicionado, fora das experiências imanentes. O bom é sempre bom em todo tempo e em qualquer espaço, seja qual for a circunstância e a situação concreta que a produz.
Acondicionam ainda o bem em posição antagônica ao mal, estabelecendo relação recíproca e constituindo conceitos axiológicos inseparáveis e opostos. Todo entendimento de bem acarretará implicita ou explicitamente um entendimento de mal, que o condiciona. Contudo, não se tratam de entendimentos puramente lógicos ou sobrrenaturais, mas históricos: de uma época para outra, de uma sociedade para outra, mudam as idéias do que é bom e mau. Nos povos antigos, por exemplo, é bom que o homem prove sua dignidade moral através da valentia; por outro lado, será um fraco caso demonstre covardia. Em outras sociedades, com a divisão de classes, nem todos os homens podem ser bons, mas somente a minoria: os homens livres. Os escravos, por não serem considerados homens, estão isentos de status axiológico. Na Idade Média é bom tudo quanto concordar com Deus e é diabólico tudo o que a Ele for refratário.
Mesmo os termos absolutos do Bem, como encontrado em larga escala em Kant, apenas existem em conformidade com os interesses das classes dominantes. Nenhuma classe aceita como bom o que entra em conflito com suas próprias vontades e interesses, de tal modo que sempre será proveitoso para a sociedade moralmente falando aquilo que uma determinada classe espera. No fim dos anos oitenta, no Brasil, possuía mérito moral todo aquele que se juntava às multidões, pintava o rosto de amarelo e verde, e gritava palavras de justiça e ordem social durante as diretas já. Hoje não há mais sentido falarmos nesses termos, até que ocorreu o estrondoso evento de junho de 2013 por todo o país. Reparem: naquele mês a multidão se aglomerou em quase todas as capitais do país em protesto por melhores condições de vida. No Rio de Janeiro - e em outras partes do país - houve enfrentamento de protestantes e a polícia. Correria, quebra-quebra, depredações. Imediatamente, os dominantes proferiram seu julgamento moral: vândalos. E mais: as manifestações se seguiram a variados comentadores - muitos dos quais patrocinados pelos poderosos - alegando que as manifestações devem ser pacíficas, em ordenadas, sem qualquer ameaça ao poder estabelecido. Ou seja, façam passeatas, mas não mudem a ordem natural das coisas.
Mudando historicamente os conceitos de bom e mau, vários valores foram desejados. Assim, falamos em bem a felicidade, o prazer, a boa vontade, a utilidade, o status social, Deus, riqueza material. Antagonicamente, temos desvalores, como a dor, má-fé, inutilidade, doença, morte.
Num outro momento verificaremos de que forma os variados status axiológicos são tratados na sociedade atual.
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